O desenvolvimento da personalidade

Antonio Ferrara


“Criar um filho é matar uma pessoa” David Cooper

“Ser pai é uma arte: a arte de tornar-se desnecessário” Paulo Gaudêncio


1. Histórico do estudo da personalidade
2. Definição de personalidade
3. Desenvolvimento da personalidade
4. Influência hereditária
5. Influência ambienta
6. Conclusão
7. Bibliografia

  1. Histórico do estudo da personalidade

Personalídade é um assunto que sempre preocupou o homem desde a antiguidade. O que faz com que cada indivíduo seja único, e portanto, diferente de todos os demais? Os estudos mais antigos remontam á filosofia grega, representada por grandes sábios, tais como Hipócrates, Platão e Aristteles, os quais partiram de concepões amplas sobre a natureza humana como -por exemplo a origem do homem, seu destino etc… Um histórico sobre o estudo da, personalidade, podemos começar com a origem da própria palavra
” Personalidade”:

Perisoma – do grego : ao redor do corpo.
Persum – do etrusco: cabeça.
Personnare – do latim : fazer soar através de…
Persona – do grego : máscara.

O termo mais lembrado quando se fala em origem da palavra -personalidade, é Persona; palavra grega que significa máscara. Existe este relacionamento Personalidade – Persona, pois persona era a máscara usada no teatro grego, e os primeiros estudos sobre personalidade ( hoje já superados) diziam que a mesma era apenas aquilo que aparece para os outros; a máscara que todos nós usamos para esconder o verdadeiro Eu.

0 estudo do homem e de sua personalidade passou a ser sistematizado em 1900 com Freud, Jung e Charcot, através de observações clínicas ( todos eram psiquiatras), onde davam ênfase ao homem como indivíduo.

Nesta mesma época surge uma outra corrente: os culturalistas que enfatizavam a sociedade, afirmando que o homem era totalmente moldado. Temos como representantes: Karen Horney, Sullivan, etc…

Surge ainda, os representantes da psicologia experimental: os experimentalistas, cuja figura principal é Skinner.

Por ser uma ciência nova, muita gente começou a estudá-la partindo de pontos diferentes, enfatizando aspectos diferentes; porém todas são válidas e podemos aproveitar de cada uma delas alguma coisa que nos esclareça sobre o comportamento humano.

Caráter é um aspecto da personalidade no que diz respeito a aparência moral e à conduta do indivíduo. É uma marca moral da pessoa.

Temperamento é o aspecto da personalidade referente ás reações emocionais típicas, às características de atividad da pessoa.

Algumas defini;ões para personalidade:

Lazarus: uma organização de estruturas hipotéticas relativamente estáveis, em virtude das quais uma pessoa atua de um modo determinado e que deve ser inferido do comportamento.
Allport: A organização dinâmica dentro do indivíduo, daqueles sistemas psicofísicos que determinam seus ajustamentos únicos ao meio.
??? : a resultante fenotípica do genótipo com o parátipo.
Ferrara: É o conjunto de coisas que faz o cara agir sempre sempre da mesma forma e que o diferencia dos outros.

3. Desenvolvimento da personalidade

A palavra desenvolvimento supõe uma sequência de mudanças ordenadas na estrutura. Normalmente, quando se pensa em desenvolvimento de personalidade, esse conceito restringe-se à infància, terminando na adolescência, porque neste ponto a maior parte das estruturas do corpo tomam forma. Isto não é a verdade porque as estruturas da personalidade evoluem e transformam-se até a idade mais avançada; esta evolução, porém, é menos percebida quando a pessoa é mais velha.

Pensa-se que essas mudanças ordenadas da personalidade ocorrem assim como as leis biológicas. Por exemplo: foram observados alguns fetos quanto à estimulação facial ( eles eram tocados no rosto). Os fetos mais novos mexiam todo o corpo em restosta aos estímulos; os mais velhos mexiam somente os músculos faciais. Considera-se então, que os mais velhos haviam progredido em relação aos mais novos, porque davam uma resposta mais localizada: usavam “movimentar só os músculos da face.

Assim também o desenvolvimento da personalidade, o desenvolvimento psicológico. A Criança em seu estágio inicial de desenvolvimento não é capaz de controlar seus impulsos. Ela faz e diz no mesmo instante aquilo que deseja. Se está interessada em brincar com o vaso de porcelana chinesa da mãe ela não quer nem saber: vai lá e … ( putz).

A capacidade de exercer controle sobre os impulsos aumenta de modo sistemático e, enfim, é necessário para que a criança possa atingir a vida adulta.

Para que esse desenvolvimento ocorra é necessária a existên cia de duas influências: a fisiológica e a ambiental. ( como fisiolóica entenda-se hereditária ou genética).

É impossível separar-se essas duas influências ou determinar-se exatamente quanto cada uma delas contribui para a formação da personalidade. Se é a natureza ou a criação o que nos faz ser o que somos, é uma velha discussão entre psicólogos, filósofos, médicos, etc…
Eles se reunem em dois grandes grupos: os nativistas e os ambientalistas. Duas teorias importantes são as de :

Tomas Hobles
(nativista)
Desde o nacimento as pessoas são guiadas por instintos herdados, sobre os quais possuem pouco constrole.
John Locke
(ambientalista)
A mente de um recém nascido é uma folha em – (pmbientalis branco onde se pode escrever qualquer coisa. ta) As possibilidades de se produzir boas ou más pessoas são ilimitadas.

O problema na verdade, é colocado sob a forma de natureza VERSUS educação, ou hereditariedade VERSUS ambiente. Qualquer que seja sua forma, quando uma Alternativa Exclui a Outra, a discussão perde todo o sentido e passa-se a tagarelar sobre o ” sexo dos anjos”. Não existe ser humano oue não seja portador de uma herança genética ou que não viva num ambiente social – todos somos assim.

Se um homem bate continuamente em sua esposa, pode-se dizer que ele descende de uma antiga linhagem de ” espancadores de esposas” e que herdou essa característica? Ou será que podemos dizer que o ambiente em que se desenvolveu ensinou-o a crer que bater na mulher é um bom passatempo para maridos? Mesmo que tenhamos escolhido uno das duas explicações, o que elas nos acrescentam?

4. Influência hereditária na Personalidade

Thompson, da universidade de Weslyan fez uma experimento com ratos em 1957. Ele tocava uma campainha e dava um choque em 5 ratas que estavam numa gaiola, desta forma, após ouvir a campainha, as ratas esperavam o choque. A seguir, ele as treinou para passarem para um outro compartimento da gaiola, a fim de que pudessem se livrar do choque; então, quando a campainha tocava, as ratas corriam para o outro compartimento da gaiola e ficavam livres do choue. Em seguida, as ratas foram acasaladas e engravidaram.

Durante a gestação, a porta de passagem para o outro compartimento ficava fechada e elas ouviam a campainha 3 vezes por dia. Embora não se desse o choque, elas esperavam por ele, pois ouviam o ruído da campainha e isso era uma fonte de angústia.

Thompson acreditava que essa angústia provocaria mudanças endócrinas nas ratas e essas mudanças seriam transmitidas aos filhotes pelo sangue da mãe. Ao nascerem os filhotes, foram realizados experimentos com os mesmos, e com outros ” normais”. O grupo ” normal” se mostrava muito mais ativo e sabia procurar alimentos muito mais rapidamente do que o grupo de filhotes ” angustiados”.

Thompson concluiu que ” diferenças no ambiente pré-natal do rato produzem diferenças no comportamento posterior”. Não é possível, logicamente efetuar-se o mesmo experimento com seres humanos, mas as provas disponíveis parecem indicar um grande papel da hereditariedade na influência sobre os aspectos temperamentais da personalidade.

A vida de toda pessoa começa quando o espermatozóide do pai penetra no óvulo da mãe. Cada uma dessas células germinativas possui ” transmissores de hereditariedade” , os cromossomos. Através desses cromossomos herdamos de nossos pais, várias características, nossa bagagem genética, chamada genótipo. Por outro lado, essas características se relacionam com o meio ambiente e é essa relação que é possível observar-se Por exemplo: só é possível concluir-se que a pessoa tem força física se a submetemos a uma prova: quantos quilos você consegue levantar?

O modo pelo qual a hereditariedade e o ambiente se relacionam tem sido estudado em animais. Uma certa espécie de coelho da montanha, quando criado em ambiente natural, apresenta pelagem branca com manchas pretas na extremidade. A cor da pelagem é um genótipo uma herança genética, mas quando o coelho cresce numa gaiola aquecida em laboratório, a pigmentação negra não aparece. Todavia ao se resfriar artificialmente uma parte da área branca, desenvolve-se a coloração preta. ( Sinnot, Dun e Dobzhansky, 1958).

Pode-se também observar a interação da hereditariedade e do ambiente em nossa vida cotidiana. Sabemos que o tamanho físico é um genótipo (uma característica herdada). Como então, algumas crianças tornam-se mais altas e mais pesadas que seus pais? Se o ambiente não afetasse o desenvolvimento por certo pais e filhos seriam exatamente do mesmo tamanho.

James Shields ( psicólogo ingles) propõe uma forma de se ob-servar a hereditariedade na influência do desenvolvimento da personalidade. Ele estudou dois tipos de gêmeos: os gêmeos idênticos que foram formados de UMA única célula-ovo, possuindo a mesma bagagem genética. Ele estudou dois grupos:

  • Gêmeos idênticos criados separadamente e gêmeos idénticos criados juntos. Os que foram criados separadamente, haviam sido separados, em geral, por volta dos seis meses de vida e a separação havia durado pelo menos 5 anos.
  • Gêmeos fraternos: formados a partir de duas células-ovo, possuindo bagagem genética diferente e criados sob o mesmo ambiente.

Os resultados da observação apontaram fortes evidências em favor da influência da hereditariedade, em inúmeros características da personalidade.

Um dos resultados mais significativos refere-se às diferenças de QI (quociente de inteligência). Shields verificou que os gemeos idênticos criados junto eram mais parecidos entre si quanto ao QI seguindo-se os gemeos idênticos criados separadamente e, por último, os gemeos fraternos.

Inegável o efeito da hereditariedade sobre o QI, mas não se pode perder de vista o importante papel desempenhado pelo ambiente. Mesmo gemeos idênticos criados num mesmo ambiente familiar mostraram algumas vezes diferenças substanciais em várias de suas características. ( James Shields, Monozygotic – Tuvins, New York, Oxford University Press, 1962).

5. Influência ambiental na Personalidade

Quando o feto vive a vida intra-uterina “tudo vai bem” com ele. Ele é alimentado e oxigenado constantemente (pelo cordão umbilical) e encontra-se protegido de contusões, ruídos, e luminosidades fortes. Ele está calmo, pois ouve o coração, o intestino, o estômago da mãe funcionando e isso lhe dá a sensação de companhia constante. Aí ele nasce: é separado de sua mãe… Existe aí uma brusca mudança ambiental que, certamente, é percebida pelo bebe.

O ambiente começa então, a influir de forma mais decisiva em sua vida. Sua primeira sensação de fome é bastante desconfortável e ele aprende que para eliminá-la é necessário chorar. Porém, como ainda não está no horário da mamada, ele deve esperar até que venha o alimento.

Foi comprovada uma forte relação entre a satisfação imediata de necessidades no adulto e o fato da mãe alimentar o bebe rapidamente, assim que ele começasse a chorar. Em geral verificou-se que as pessoas que queriam logo por em prática suas idéias eram alimentadas assim que começassem a chorar.

Uma experiência interessante foi desenvolvida por J. Hunt em 1941. Durante a primeira infância, privou alguns ratos de alimentação; só fornecia aos ratos o alimento mínimo para subsistência. Alimentava normalmente, ao mesmo tempo, uma outro grupo de ratos. Depois de um certo tempo, criou condições para que esses ratos guardassem alimentos em suas gaiolas. O grupo de ratos que foram privados, guardava o dobro de bolinhas de alimento do que o grupo que havia sido alimentado normalmente.

Assim, também, a criança cuja alimentação é várias vezes interrompida bruscamente, antes de uma completa satisfação, pode chegar a desenvolver crenças permanentes de que não se pode ter confiança no mundo, de que não se pode acreditar nas pessoas.

Depois de alimentado, o bebe dorme tranquilo e satisfeito. Então acorda. Sente-se sozinho. Ele não ouve o pulsar do coração materno e não sente a presença da mãe. Utiliza-se novamente de sua arma de defesa: chora. A mãe atende, e ele se acalma. Sem dúvida, o período de tempo entre o se perceber sózinho e o ser atendido pela mãe, é angustiante para o bebe. A variação desse período de tempo (maior ou menor) talvez alimente sentimentos de solidão ou proteção, de insegurança, que podem deixar marcas profundas na personalidade adulta.

Então, quando o bebe é o centro de todas as atenções da família acontece o “grande desastre”, nasceu seu irmãozinho. A presença de outras crianças na família pode ter consequências para a criança com relação ao aparecimento de rivalida de entre irmãos; o mais velho se sente separado da atenção dos pais. Disto podem aparecer atos de agressão contra o intruso ou um comportamento regressivo como a volta a uma linguagem de neném ou o não controle da urina durante o sono. Isto tem sido interpretado como a tentativa, do irmão mais velho, de recolocar-se no papel de dependente diante dos pais.

Outro fator importante também é a sequência do nascimento. As provas existentes, quanto à diferença entre o irmão mais velho e o mais moço, parecem confirmar a noção comum de que o mais velho tende a ser mais orientado para uma perspectiva adulta, mais sisudo, menos a vontade na vida social, enqunto o mais moço tende a ser mais tranquilo, mais alegre e menos circunspecto.

Não existem conclusões definidas com relação ao filho único.

Crescendo no seio da família, a criança/adolescente, encontra na relação com os pais outra influência do ambiente na formação de sua personalidade. Existem atitudes dos pais favoráveis ao melhor desenvolvimento da personalidade da criança, enquanto outras são prejudiciais. Entre estas últimas estão:

  • A rejeição da criança: tende a conduzir a sentimentos de insegurança e autodesvalorizaçao. A criança rejeitada pode achar dificil dar a receber afeição em suas relações inter-pessoais.
  • A superproteção maternal indulgente: a criança tende a ser egoista, egocêntrica, irresponsável e a ter um baixo nível de tolerância à frustração.
  • A superproteção maternal dominante: a criança tende a ser excessivamente submissa, obediente, inadequada, com falta de iniciativa, passiva e dependente dos outros.
  • A disciplina excessivamente severa: pode conduzir a fortes necessidades de aprovação social ou sentimentos de condenação da própria conduta.
  • A disciplina insuficiente ou inconsistente: pode provocar um desenvolvimento inadequado do autocontrole, ou a indecisões ao fazer escolhas ou enfrentar problemas.
  • Um padrão moral excessivamente rigoroso: esse padrão imposto pelos pais, pode conduzir a uma personalidade rigida e a tendências para sentimentos de conflito e de culpa.

6. Conclusão

A personalidade pode ser analogamente equiparada a um edifício A estrutura interna do edifício e suas bases (feitas primeiramente) podem ser comparadas às influências hereditárias na formação da personalidade. É a carga genética herdada dos pais.

O acabamento do edifício, porém, torna-o formoso e adequado ao bairro onde está situado. Assim, a influência ambiental pode ser colocada de forma análoga: ela trabalha os fatores hereditários, moldando uma personalidade ordenada.

É vital que a situação, e sobretudo, as atitudes dos pais sejam capazes de assegurar à criança, amor, amplitude e orortunidade para assumir responsabilidades. Não existe uma fórmula “certa” para educação da criança. O ato deve ser adequado à situação e às necessidades de uma determinada criança, e a única “fórmula” a ser lembrada, é gostar da criança sem sufocá-la, ser firme sem ser rígido e, acima de tudo, estar a vontade na situação e gostar de ser pai ou mãe.


7. Bibliografia.

  • Krech, David e Crutcfrfield, Richard – D-L PSICOLOGIA tradução de D:nte e Miriam Moreira Leite, 5a. edição, São Paulo, Pioneira, 1974, passim.
  • David A. Statt – INTRODUÇÃO A PSICOLOGIA – tradução Irofa. -Dra. Anisso Liberalesso Neri, la. edição, São Paulo, Edito ra Harper e Row do Brasil Ltda, 1978, passim.
  • Hall, E. S. Lindzey, G. – TEORIAS DA PERSONALIDADE – tradução de Lauro Bretones, 1a. edição, São Paulo, Editora Pedagógica e Universitária Ltda, 1973, passim.
  • Laizarus, Richard S. – PERSONALIDAD E ADAPTAÇÃO – tradução de Alvaro Cabral, 2a. edição, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1969, passim.
  • Gaudêncio, Dr. Paulo – JOVEM URGENTE – 2a. edição, Sao Paulo, 1:4ições Paulinas, 1974, passim.

Agradecimentos:

À Noemi, que não deixou o Carlo rasgar os manuscritos.
À Lourdes, que ajudou na elaboração do trabalho.

ABRIL/80.