Sociometria: uma nova forma de calcular os índices do Teste Perceptual


Prefácio

Depois de mais 30 anos que este trabalho foi publicado, resolvi revê-lo, na esperança de que alguns psicodramatistas possam utilizá-lo. A maior parte está escrita como o original, só acrescentei algumas técnicas novas de desenho, que na época não existiam.

Ele foi publicado originalmente na 

  • Revista Brasileira de Pesquisa em Psicologia. 1 (03) 1989,
  • Revista Brasileira de Psicodrama Número II 1990, 
  • Sambadrama: The Arena of Brazilian Psychodrama, por Zoltan Figusch (Editor, Tradutor) em 12/2005.

Ele teve muita utilidade quando foi publicado inicialmente (1989), mas pouca gente faz grupos hoje em dia… Vejam um trecho da entrevista feita por Sérgio Guimarães, com Antonio Carlos Cesarino em Maio de 2019 :

“Sérgio : Hoje, por exemplo, você fez algum Psicodrama hoje ou não?”

“Cesarino: Não, eu só atendi pessoas individuais… Eu não estou mais fazendo grupo, eu não tenho mais espaço para grupo, por outro lado a procura por grupo caiu muito. No começo do Psicodrama eu tinha 10 grupos por semana, cada grupo com 10, 12 ou 14 pessoas… então era uma multidão que passava no consultório, fora os individuais. A procura diminuiu muito, tem duas psicodramatistas, eu queria mandar uma moça para um grupo de Psicodrama, demorou muito para achar quem – e eu conheço um monte de Psicodramatistas – para achar quem tinha grupo ainda… muito pouca gente. O Fonseca, por exemplo, tem muitos grupos, mas é tudo grupo de estudos, de discussão, grupos de terapia nem ele não tem.” 

Embora o Psicodrama hoje esteja reduzido a alguma outra coisa que é diferente do início, é impossível negar a visão de Jacob Levi Moreno. Eu me arrisco a dizer que ele “inventou um processo” para medir o que hoje a Programação Neurolinguística chama de “Leitura Mental”. 

Esta é uma estrutura superficial de que uma pessoa pode saber o que a outra está pensando ou sentindo, sem uma comunicação direta por parte dela. Por exemplo:

“Vocês estão gostando dessa parte!”

Ninguém me falou isto mas… eu “adivinho” que vocês estão gostando dessa parte. É uma distorção de minha referência perceptiva. 

(Afinal, vocês estão gostando ou não? Durante 30 anos eu só tive uma resposta à essa pergunta: uma pessoa em um congresso me disse, abruptamente, sem nenhum prelúdio: “Sim, eu estou gostando!”  Ainda bem que lembrei deste artigo e respondi algo, que não me lembro…) 

Quando você aplica o Teste Sociométrico, a pessoa vai anotar como ela acha que cada um vai lhe escolher (positiva, negativa ou indiferente); isto é a “representação interna do grupo dentro de cada um de seus integrantes”, ou… a Leitura Mental, avaliada matematicamente.

É verdade que Bustos faz uma importante anotação, dizendo que “É função do coordenador realizar o teste somente após o grupo ter eleito um critério válido e discutido em todas as suas especificações.” Mesmo assim, desconheço algum estudo que diga que o que foi avaliado em um teste seja válido para outras escolhas. 

Mesmo assim, o Teste Sociométrico não funciona com a  “qualidade” do acerto. Ele funciona “somente” com relação à quantidade de acertos de uma pessoa, daquele grupo, naquele momento. A dúvida que permanece, tanto na aplicação quanto na teoria é se as relações télicas transformam-se com o tempo. Nas aulas de Sociometria que conduzi, as pessoas falavam ao final o porquê de sua escolha, assim podíamos entrar um pouco mais nas relações entre eles.

As relações tornavam-se mais exatas e terminavam ou continuavam de um jeito melhor, mais aberto. Mesmo assim, acho que faltaria um novo teste para poder comparar as escolhas durante certo tempo… Mas não teríamos certeza que o resultado seria exato: afinal as relações mudam e após a aplicação o teste perderia a validade.   

Principalmente acho que não seria válido para outros grupos com critérios diferentes! Ou em outra época para o mesmo grupo! 

Bem, se tiverem coragem, divirtam-se! 

Antonio M C Ferrara
ferrara@playback.com.br

Maio / 2021


“Defino uma sociedade sadia por estes dois laços. Somente existe por seres independentes, mas profundamente ligados ao grupo” Albert Einstein

Objetivo

O teste sociométrico criado por Moreno sofreu modificações no decorrer do tempo. Quando é utilizado com finalidades terapêuticas, na forma atual, ele atribui um grande valor aos índices demonstrados através da avaliação do TESTE PERCEPTUAL (índice de percepção, de emissão, índice télico e índice télico grupal). 

A forma de se encontrar estes índices, proposta por Bustos, atende finalidades de demonstração gráfica, sendo útil para pessoas que têm na forma gráfica maior facilidade de compreensão. O objetivo deste trabalho é demonstrar uma forma alternativa para encontrar os mesmos índices, agrupando os dados em uma tabela que permita leitura direta.

Importância do Perceptual

Para que se entenda a importância do teste perceptual e seus índices, é necessário rever: 

  • o conceito de tele segundo a teoria da comunicação;
  • a base de informações para avaliação do teste sociométrico.

O conceito de TELE segundo a teoria da comunicação

“Quando compreendemos o tele como um conceito vincular, indicador do correto fluir que configura a dinâmica do encontro, estamos falando de comunicação. Moreno fala da percepção à distância para definir o tele, no entanto, a percepção é somente uma parte da dinâmica da relação. A outra é a emissão e ambas configuram as duas direções de vínculo” (A, pág. 48). 

A teoria da comunicação evidencia três elementos existentes em qualquer processo de comunicação: o emissor, a mensagem e o receptor: 

Esta teoria postula, ainda, que não existirá comunicação se não houver um emissor ou um receptor e que, existindo esses dois elementos, é impossível não haver comunicação, porque a mensagem sempre vai existir (a ausência de mensagem é, por si só, uma mensagem). 

Nesse sentido, Watzlawick coloca que podemos postular um axioma metacomunicacional da pragmática da comunicação: não se pode não se comunicar (G. pág. 47). Temos então que, num processo de comunicação, emissores emitem mensagens que são RECEBIDAS por receptores e para que isto aconteça basta estarem juntos; Watzlawick porém, indica que “… qualquer comunicação implica em um compromisso e, por conseguinte, define a concepção do emissor de suas relações com o receptor“ (G, pág. 47). 

Cabe deter-nos, então, em como estas mensagens (e estas definições de concepção de relação) estão sendo emitidas/ recebidas. Examinemos as duas seguintes comunicações. Neste exemplo simples, poderemos levantar algumas possibilidades de estarem ocorrendo “falhas” na comunicação:

  • O emissor não tem a menor vontade de se encontrar com a outra pessoa mas, por qualquer motivo, quer parecer simpático e diz: “Que bom encontrar você…?”. Neste caso, este emissor não estaria emitindo corretamente, ou seja, aquilo que está verbalizando não está coerente com seus sentimentos; ele, neste caso específico, estaria sendo um “MAU EMISSOR”, de acordo com a nomenclatura de Bustos;
  • o emissor tinha, realmente, vontade de encontrar o outro e quando afirma “Que bom encontrar você …” está demonstrando o que sente mas, por outro lado, o receptor é urna pessoa que tem dificuldade de perceber o interesse de outras pessoas em si: recebe a afirmação com desconfiança e reluta em aceitar que o outro tenha ficado satisfeito em encontrá-lo; responde secamente: “É mesmo???”. Neste segundo exemplo, estaríamos diante de um “MAU RECEPTOR”. 

Este exercício de imaginar exemplos poderia continuar, ainda, elaborando-se hipóteses para “MAU EMISSOR/ MAU RECEPTOR” ou para “BOM EMISSOR/ BOM RECEPTOR”, que são os outros “tipos caracterológicos sociométricos” definidos por Bustos (A, pág. 49).

O que importa, neste ponto, é que as mensagens que são emitidas num processo de comunicação podem estar sendo mal emitidas E/OU mal percebidas e, se algumas destas coisas estiver acontecendo não estamos, certamente, diante de uma RELAÇÃO TÉLICA; na verdade, para constatar a existência de uma relação télica, deveríamos examinar quatro sentidos de direção na comunicação de duas pessoas, a saber: 

Ou seja, aquilo que o Roberto emite é emitido corretamente, coerentemente e é assim que é percebido pelo Afonso; além disso, aquilo que o Afonso emite também é correto e é percebido com exatidão pelo Roberto. 

“Espero que você tenha entendido o que eu escrevi neste tópico, porque é muito importante para a compreensão do resto do trabalho; caso você não tenha entendido, por favor, releia e tire uma conclusão avisando-me: fui um mau emissor?”

Na pergunta que lhe fiz anteriormente, estou questionando como estou me saindo na comunicação escrita; esta comunicação poderia estar sendo verbal (se você estivesse somente me ouvindo) ou verbal/ corporal se você estivesse assistindo uma palestra. 

Na avaliação do teste sociométrico, o sociômetra terá respostas escritas em mãos, de cada um dos elementos do grupo, sobre a comunicação daquele elemento com os demais, para um determinado critério sociométrico. Além disto, ele disporá das respostas dos outros elementos o que lhe permitirá comparações. Este é o próximo tópico.

A BASE DE INFORMAÇÕES PARA AVALIAÇÃO DO TESTE SOCIOMÉTRICO
 

A base de informações para avaliação do Teste Sociométrico

“Segundo minha definição mais antiga da sociometria, os sistemas sociais consistem em um sistema de preferências ou de atração-rejeição-neutralidade” (D, pág. XLII). 

“Dificilmente mantemo-nos afetivamente neutros em relação às pessoas com quem constantemente entramos em contato … Da mesma forma não é comum que os outros expressem apenas sentimentos de neutralidade afetiva em direção a nós… A atração ou repulsão afetiva existente entre duas pessoas influenciará uma série de comportamentos sociais tais como a suscetibilidade à influência e identificação, a imitação e a agressão, exercício de poder, formação de grupos, percepção social etc.” (F. pág.319). 

Basicamente, na aplicação do teste sociométrico é proposto a um grupo que está sendo analisado, que cada elemento responda às seguintes perguntas, após cumpridas as fases preconizadas por Moreno/ Bustos para a aplicação e aquecimento: 

QUEM VOCÊ ESCOLHERIA PARA … (critério)? 

QUEM VOCÊ ACHA QUE LHE ESCOLHERIA PARA … (critério)? 

A complementação destas perguntas, é feita com o “CRITÉRIO SOCIOMÉTRICO”, ou seja, o objetivo que será utilizado para que cada elemento faça suas escolhas dentro do grupo. Este critério de escolha é, necessariamente, discutido pelo grupo, é emergente deste, a fim de que as escolhas possam ser feitas da forma mais adequada e livre possível. 

É função do coordenador realizar o teste somente “após o grupo ter eleito um critério válido e discutido em todas as suas especificações.” (A, pág. 35); na verdade, 

  • esta discussão em torno do critério sociométrico e a 
  • elaboração das fantasias do grupo em torno da aplicação que será feita

servem como aquecimento para a aplicação do teste. O seguinte exemplo de critério é relatado por Bustos (A, pág 76): 

Quem você escolheria PARA FAZER UM EXERCÍCIO DRAMÁTICO QUE SERÁ REALIZADO NO GRUPO? 

Quem você acha que lhe escolheria PARA FAZER UM EXERCÍCIO DRAMÁTICO QUE SERÁ REALIZADO NO GRUPO?

Segundo Bustos, “Existem tantos critérios quantas ações que o ser humano tem” (A, pág. 34). 

Na aplicação é solicitado que cada uma das pessoas do grupo analisado faça seu julgamento e formule suas respostas, dividindo-as em três grupos: 

  1. as pessoas que eu escolheria (e que eu acho que ME escolheriam) POSITIVAMENTE;
  2. as pessoas que eu escolheria (e que eu acho que ME escolheriam) INDIFERENTEMENTE; 
  3. as pessoas que eu escolheria (e que eu acho que ME escolheriam) NEGATIVAMENTE.

Dentro de cada grupo, é solicitado que as escolhas sejam feitas de forma HIERARQUIZADA, ou seja, é necessário escolher uma pessoa em PRIMEIRO LUGAR POSITIVAMENTE, outra em SEGUNDO LUGAR POSITIVAMENTE, em terceiro lugar etc., sendo que esta hierarquização deve ser obedecida tanto para as escolhas POSITIVAS, como para as NEGATIVAS e INDIFERENTES. As duas perguntas feitas (acompanhadas do critério sociométrico), objetivam investigações diferentes: 

QUEM VOCÊ ESCOLHERIA PARA …?: é o TESTE OBJETIVO e permite investigar o grupo externo (“’o grupo que pode ser objetivado por um observador” — A, pag. 46); a resposta a essa pergunta mostra claramente quais as eleições feitas por um membro do grupo em relação aos demais; é a “imagem real do grupo”; o teste objetivo baseia-se na “dinâmica da escolha” e é chamado de ‘extrovertido” 

QUEM VOCÊ ACHA QUE LHE ESCOLHERIA PARA…?: é o teste PERCEPTUAL e permite uma investigação da “representação interna do grupo dentro de cada um de seus integrantes” ou do “grupo interno”; o teste perceptual baseia-se na “dinâmica da percepção social” e é chamado de “introvertido”. 

Ao terminar a aplicação, então, o sociômetra tem em suas mãos uma quantidade de respostas a estas duas perguntas e esta será a sua base para avaliação do Teste Sociométrico; ele poderá começar a estabelecer certas comparações, como por exemplo: 

  • Se o elemento “A” escolheu o elemento “B” em segundo lugar positivamente, como será que o elemento “B” escolheu o elemento “A”? Será que a escolha foi igual (também em segundo lugar e positivamente)? Se foi igual, teremos uma escolha igual de ambos os lados ou uma MUTUALIDADE; caso contrário estaremos frente a uma INCONGRUÊNCIA. 
  • Se o elemento “X” acha que seria escolhido pelo elemento “Y” em primeiro lugar positivamente, como foi a escolha do elemento “Y”, uma vez que eu, sociômetra, disponho também desta resposta? 

É possível uma série de comparações entre todas as respostas disponíveis, o que é um trabalho de cruzamento de informações e descoberta de mutualidades, incongruências etc. Este trabalho é sistematizado por Bustos em “O teste sociométrico” e eu passo a dirigir minha atenção, principalmente, para o que diz respeito ao teste perceptual. 

A comparação das respostas mostra as DISTORÇÕES entre: 

  • O GRUPO QUE EXISTE

Esta informação é obtida com base nas respostas que cada um deu para a pergunta QUEM VOCÊ ESCOLHERIA? É o sentimento real de cada participante, colocado em forma de uma escolha em relação ao outro. 

  • O GRUPO QUE CADA ELEMENTO JULGA EXISTIR

Esta informação é obtida com base nas respostas que cada um deu para a pergunta QUEM VOCÊ ACHA QUE LHE ESCOLHERIA?. Neste caso, para fornecer estas respostas, o elemento do grupo deve inverter de papel com cada um dos participantes e descobrir-lhe seus sentimentos com relação a si próprio; já não se trata mais daquele grupo real existente, que pode ser “objetivado por um observador”  mas a “representação interna do grupo dentro de cada um de seus integrantes” (A. Pág. 46). 

As distorções, as diferenças existentes quando se compara o grupo que existe com o grupo que cada elemento julga existir, ocorrem em virtude de que “ninguém vê o grupo como ele realmente é, porque sua percepção estará sempre mobilizada por emoções alteradoras de suas percepções corretas” (A, pág. 46). 

Nesta fase da análise é bom lembrar que “tomamos o grupo como um referente médio normal. Para avaliar a percepção, aceitamos que o grupo emite corretamente, apesar de sabermos que há membros que não o fazem” (A, Pág. 07). O risco apontado por Bustos, afirmando que existem elementos do grupo que não emitem corretamente mas que para efeito de avaliação são tomados como “BONS EMISSORES”, na verdade, fica diluído se consideramos que o elemento que está sendo analisado será comparado com todos os demais; entre estes, haverá bons e maus emissores, daí termos o grupo como um “referente médio normal”. 

A importância do Perceptual

Ao terminar a aplicação do teste sociométrico, o sociômetra terá disponível uma série de respostas às perguntas: 

  • Quem você escolheria para … (critério)? 
  • Quem você acha que lhe escolheria para … (critério)? 

De posse destes dados ele terá a possibilidade de estabelecer comparações da IMAGEM DE GRUPO existente num determinado momento com o GRUPO QUE REALMENTE EXISTE, quantificando a distorção existente entre esta imagem e o grupo real. 

Poderá, também, através da avaliação do teste perceptual, verificar como cada elemento do grupo se situa em seu vínculo COM cada um dos outros, identificando sua “responsabilidade comunicacional” no estabelecimento de relações télicas.

Como encontrar os índices do Teste Perceptual

A FORMA GRÁFICA ELABORADA POR BUSTOS 

“Para avaliar este aspecto do teste, traço um círculo para cada membro do grupo. Dividindo o círculo em duas partes iguais. No semicírculo superior se registra o perceptual de cada pessoa… No semicírculo inferior coloco como a pessoa foi realmente eleita, ou seja, o objetivo dos outros” (A, Pág. 47). 

Para exemplificar todo o trabalho, vou utilizar o protocolo de um teste sociométrico que foi aplicado por Bustos em julho/78. O protocolo (as respostas dos elementos às perguntas) e os gráficos correspondentes, encontram-se no livro “O teste sociométrico”, a partir da Pág. 76 até a Pág. 86. O diagrama que utilizo abaixo é o do elemento “C” do referido grupo, constante na pág. 86.

AVALIAÇÃO DO PERCEPTUAL DO MEMBRO ‘C’  DO GRUPO  ”’EXEMPLO 2”

Semicírculo superior

Teste perceptual: 

informações obtidas através das respostas que o ELEMENTO “C” deu à pergunta: “QUEM VOCÊ ACHA QUE LHE ESCOLHERIA PARA…?” 


Semicírculo inferior

Teste objetivo: 

informações obtidas através das respostas que os OUTROS ELEMENTOS deram à pergunta: “QUEM VOCÊ ESCOLHERIA PARA …?” em relação ao elemento “C”. 

A seguir Bustos divide o semicírculo superior “em tantas partes quantos forem os membros do grupo, menos um, que corresponde à pessoa que executou o teste. Cada eleição é remarcada na cor correspondente à eleição positiva, negativa ou neutra” (A, pag. 47).

Continuando o gráfico do mesmo elemento, teríamos:

É importante observar que:

  • O grupo é composto de 7 elementos: o elemento “C” não consta no gráfico porque o gráfico é dele mesmo.
  • Os elementos estão relacionados da esquerda para a direita, em função dos sinais das eleições que fizeram (segundo a percepção do elemento “C”,  já que se trata de teste perceptual):

                                 POSITIVA    NEUTRA    NEGATIVA

iniciando à esquerda estão os elementos que “C” acha que lhe escolheram positivamente (“A”, “D” e “E”), pintados de azul, que é a cor com a qual são identificadas as escolhas positivas; em seguida é colocado o elemento “G” (que o elemento “C” acha que o escolheu indiferentemente), remarcado de verde; por último, aparecem os elementos “F” e “B”, pintados de vermelho, correspondentes às escolhas que o elemento “C” acha que foram negativas.

Até este instante, os dados compilados referem-se à “axiologia” do elemento “C”: são dados que traduzem COMO O ELEMENTO “C” ACHA QUE OS OUTROS LHE ACOLHERIAM. É uma hipótese do elemento “C”, ou seja, é a representação interna daquele grupo do ponto de vista de “C” e em relação à si mesmo.

“No semicírculo inferior, coloco como a pessoa foi realmente eleita, ou seja, o objetivo dos outros, remarcando também com as cores correspondentes a cada sinal. Em cada compartimento de ambos os semicírculos, coloca-se a inicial de cada pessoa, marcando com um asterisco aqueles compartimentos cujo sinal coincide no perceptual e objetivo dos outros” (A, pág. 47).

Continuando a elaboração do gráfico, de acordo com as instruções de Bustos, temos:

Após lançar, no semicírculo inferior, as respostas dos outros membros do grupo à pergunta “Quem você escolheria para …”, Bustos estabelece, neste gráfico, a seguinte comparação:

O elemento “C” acha que o elemento “A” o escolheria de forma positiva, para o critério proposto (isto pode ser verificado no semicírculo superior); será que ele acertou, em sua hipótese? Observando o semicírculo inferior verificamos que não: o elemento “A”, na realidade, escolheu o elemento “C” indiferentemente. Isto significa que “C” tem uma representação interna de “A” que não condiz com a realidade: ele não foi escolhido da forma como imaginava. 

Podemos imaginar duas coisas: 

  • o elemento “C” não percebe as mensagens de indiferença que “A” lhe envia (“C” é um MAU-RECEPTOR), ou 
  • o elemento “A” não emite corretamente sua indiferença (“A” é um MAU-EMISSOR). 

Qual destes fatos é verdadeiro? Ainda não nos é possível saber mas a continuidade deste tipo de análise vai nos dar um caminho.

Bustos continua a comparação das hipóteses do elemento “C” (o perceptual de “C”) com as respostas que tem dos outros elementos do grupo em relação a “C” (o objetivo dos outros). 

Descobre, então, que “C” somente acertou em suas hipóteses com relação aos elementos “D” e “E” (ele acha que eles o escolheriam positivamente e eles realmente o escolheram desta forma). Estas respostas são marcadas com um asterisco. 

“O teste perceptual nos permite conhecer primeiro o índice de percepção que mede a capacidade de perceber de uma pessoa. Este índice coincide com o número de coincidência em relação ao número total de possibilidades (número de membros do grupo menos um)” (A, pág.48).

 Observando o gráfico, vemos que “C” teria 6 possibilidades de acerto. Destas, acertou duas. Diz-se que o ÍNDICE DE PERCEPÇÃO DE “C” é 2/6. (É importante verificar que o colorido pode levar a conclusões erradas. No gráfico, percebe-se a existência de 3 elementos coloridos com azul no semicírculo superior e 3 no inferior; isto não significa, porém, que existem 3 coincidências). 

Isto já nos dá algum indício para responder a questão de quem é “MAU-RECEPTOR” ou “MAU-EMISSOR” na relação entre “A” e “C”.Parece existir um problema de percepção por parte de “C”.Um indício mais concreto somente poderá ser observado quando pudermos verificar qual o ÍNDICE DE EMISSÃO de “A”. 

Bustos continua o mesmo raciocínio, as mesmas comparações, para todos os outros elementos do grupo. Desenha mais 6 círculos, divide-os em semi-círculos, lança em cada semicírculo superior as respostas ao teste perceptual do elemento do grupo que está sendo analisado e no semicírculo inferior as respostas ao teste objetivo dos outros elementos do grupo em relação àquele. Ao final, ele obtém 7 círculos (um para cada elemento do grupo) que estão à página 86 de seu livro “O teste sociométrico” e que são reproduzidos a seguir. 

De posse de todos os gráficos, já se tem condições de calcular o índice de emissão de cada elemento do grupo.

“Avalia-se a capacidade de emissão de mensagens, contando quantas vezes o nome dessa pessoa foi marcado com um asterisco (bem percebido) no gráfico DOS OUTROS MEMBROS DO GRUPO NO SEMICíRCULO INFERIOR” (A, pág. 49).

No caso do elemento que estamos utilizando como exemplo, verifica-se que ele tem um asterisco no semicírculo inferior dos elementos “B”, “D”, “E”, “F’ e “G”, o que significa que suas mensagens positivas (ele escolheu todos positivamente) coincidem com a sua repre-

sentação interna nos elementos “B”, “D”, “E”, “F’ e “G”; estes percebem exatamente aquilo que “C” lhes transmite (uma escolha positiva) pois imaginavam que “C” lhes escolheria positivamente.

Temos então, que em 6 possibilidades de acerto, “C” acertou 5 o que lhe confere um íNDICE DE EMISSÃO DE 5/6; é um bom índice.

Tendo calculado o ÍNDICE DE PERCEPÇÃO (2/6) e o ÍNDICE DE EMISSÃO do elemento “C”, estamos em condições de verificar qual o seu íNDICE TÉLICO.

” …o tele implica, dinamicamente, tanto a emissão como a percepção. É este (índice télico) o índice que avalia globalmente a comunicação e nos permite conhecer o grau de adequação do indivíduo em relação a ele mesmo e ao grupo do qual participa” (A, pág. 51).

O índice télico é calculado utilizando-se uma média aritmética simples dos numeradores dos outros dois índices (de percepção e de emissão), conservando-se o denominador que é comum. No caso do elemento “C”,o cálculo de seu índice télico ficaria assim:

Percebe-se que o elemento “C” apesar de um “baixo” índice de percepção, tem um alto índice de emissão, o que eleva seu índice télico (que engloba tanto a percepção como a emissão). Isto nos remete a uma questão anterior: na relação de “C” com “A”, “C” é “MAU-RECEPTOR” ou “A” é “MAU-EMISSOR”? A última hipótese levantada é que existia um problema de percepção de “C”.

Isto fica parcialmente confirmado quando se tem em conta que o índice de percepção de “C” é 2/6 mas uma resposta mais conclusiva sobre o vínculo de “A” e “C” somente será possível se analisarmos, também, os índices de percepção e de emissão de “A”.

Calculando-se estes índices, da mesma forma que foi feita para o elemento “C”,temos que o elemento” A” possui os seguintes resultados:

Verifica-se, então que “A” possui um índice de emissão 2/6 que .também é considerado baixo; neste caso, a relação”A” e “C”, além da “falha” de percepção de “C” levantada anteriormente tem, também, “falhas”de emissão de “A”.

Observando seus índices télicos, 

nos é permitido imaginar que “C” tem maior capacidade no estabelecimento de relações télicas do que “A”; é com este indício que poderíamos trabalhar esta relação. Bustos faz uma análise detalhada destes dois elementos em seu livro, à página 82 a 84, avaliando também as mutualidades e incongruências nas escolhas; este indício é também confirmado ao compararmos os índices télicos dos dois com o ÍNDICE TÉLICO GRUPAL, que é de 3,1.

O índice télico grupal representa “a quantidade de tele que o grupo contém” (A, pág. 52); é obtido pela média aritmética dos numeradores de todos os índices télicos encontrados. No grupo tomado como exemplo, o cálculo seria:

Índices Télicos
A
1 / 6
B
4 / 6
C
3,5 / 6
D
4 / 6
E
4,5 / 6
F
2 / 6
G
3 / 6
Cálculo do Índice Télico Grupal
(1 + 4 + 3,5 + 4 + 4,5 + 2 + 3) : 763,16

Esta é a forma gráfica colocada por Bustos, para avaliação do perceptual (índices de percepção, de emissão, télico e télico grupal). Chamo-a de GRÁFICA porque dispõe os dados em gráficos circulares, para cada elemento do grupo.

UMA VARIAÇÃO

A variação da forma gráfica que passo a descrever modifica a ordem de colocação dos elementos nos semicírculos, facilitando a leitura das informações. Esta variação foi introduzida por Rosa Lídia Pacheco Pontes nas aulas de Socionomia da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICODRAMA E SOCIODRAMA,

De acordo com o relatado em “A forma gráfica elaborada por Bustos”, Bustos segue uma ordem determinada ao lançar as informações nos semi-círculos: da esquerda para a direita, em função das eleições feitas,

Em suas aulas, Rosa Lídia estabelece uma ordem diferente, lançando as respostas do teste objetivo dos outros membros do grupo NA DIAGONAL em relação aos elementos do semicírculo superior. Por exemplo, após terem sido lançados os valores do teste perceptual de “C”, o valor do teste objetivo de “A” e “D” seria lançado como segue:

Desta forma, a visualização das coincidências (vista sempre na diagonal) é simplificada; o lançamento dos demais resultados do teste objetivo, no semicírculo inferior, continua sendo feito na diagonal.

A continuidade do procedimento não difere da forma de Bustos (coloração, anotação das coincidências com asteriscos e cálculos dos índices).

UMA NOVA FORMA: A FORMA TABULAR DE CÁLCULO

Como simplificação para as pessoas que têm mais facilidade em verificar dados em tabelas, apresento uma forma tabular de cálculo dos índices do teste perceptual.

Esta nova forma sintetiza-se na elaboração de uma tabela, a partir das respostas dadas pelos membros do grupo aos testes perceptual (grupo interno) e objetivo (grupo externo).

A ELABORAÇÃO DA TABELA

Nesta tabela, os dados estão dispostos da seguinte forma:

Esta tabela é dividida em tantos quadros quantos forem os membros do grupo mais:

  • 3 quadros na horizontal: para conter legenda, índice de percepção e índice télico;
  • 2 quadros na vertical: para conter legenda e índice de emissão.

Para um grupo composto de sete elementos, a tabela seria:

7 + 3 = 10 quadros na horizontal e

7 + 2 =   9 quadros na vertical,

e estaria elaborada como segue:

Observa-se que:

  • a primeira linha horizontal e a primeira linha vertical são utilizadas para colocação da IDENTIFICAÇÃO DOS MEMBROS DO GRUPO ( A, B, C etc. ) e para colocação das LEGENDAS;
  • a última linha horizontal é destinada à colocação do valor encontrado no cálculo do ÍNDICE DE EMISSÃO;
  • a penúltima linha vertical serve para colocação do valor encontrado no cálculo do ÍNDICE DE PERCEPÇÃO;
  • na última linha vertical é colocado o valor do cálculo do ÍNDICE TÉLICO;
  • (*) no espaço à direita, embaixo, é colocado o valor do cálculo do ÍNDICE TÉLICO GRUPAL.

A seguir, são calculados todos os quadros na diagonal (porque o elemento “A” não escolhe a si mesmo, assim como cada um dos outros também não).

Além disto, a linha horizontal correspondente a cada elemento é dividida em 2 quadros (porque serão lançados o teste objetivo e o teste perceptual de cada elemento).

A tabela agora, está na sua forma final e pronta para lançamento dos dados.

O LANÇAMENTO DAS INFORMAÇÕES

NA LINHA 1 E NO SENTIDO HORIZONTAL, É LANÇADO O TESTE PERCEPTUAL DE CADA ELEMENTO DO GRUPO (ou o correspondente ao grupo interno de cada um). Em resumo, é a resposta que cada um deu à pergunta “Quem você acha que lhe escolheria…?”

Para o exemplo com o qual estamos trabalhando, os lançamentos ficariam da seguinte forma:

Observe que os dados do teste perceptual de cada elemento estão sendo lançados na LINHA 1 e no sentido horizontal:

Já se pode perceber, pela quantidade de sinais positivos, que a grande expectativa deste grupo é ser escolhido positivamente uma vez que as informações lançadas referem-se às respostas à pergunta “Quem VOCÊ ACHA QUE LHE ESCOLHERIA para … ?”

A seguir, NA LINHA 2 E NO SENTIDO VERTICAL, É LANÇADO O TESTE OBJETIVO DE CADA ELEMENTO DO GRUPO (ou o correspondente ao grupo externo de cada um). É a resposta de cada um à pergunta “Quem você escolheria para …?” Para o exemplo com o qual estamos trabalhando, os lançamentos ficariam da seguinte forma:

Pode-se perceber que o grupo fez muitas escolhas positivas, se lembrarmos que as informações lançadas na LINHA 2 referem-se às respostas à pergunta “Quem VOCÊ ESCOLHERIA PARA … ?”

Após estes lançamentos a tabela está pronta para a execução dos cálculos dos índices.

O CÁLCULO DO ÍNDICE DE PERCEPÇÃO

Para calcular o ÍNDICE DE PERCEPÇÃO DE “A”, basta verificar, NA HORIZONTAL, quantas coincidências de sinais existem entre a primeira e a segunda linha, assumindo este número como numerador; como denominador, assumir a quantidade de elementos no grupo menos um. Por exemplo, o índice de percepção de “C” seria calculado assim:

Está pronto o cálculo do índice de percepção de “C”. O mesmo raciocínio ( a contagem das coincidências na horizontal ) pode ser aplicado aos demais membros do grupo. 

O CÁLCULO DO ÍNDICE DE EMISSÃO

É feito contando-se as coincidências existentes na LINHA VERTICAL referente ao elemento que se quer calcular. Por exemplo, o cálculo do índice de emissão do elemento “C” ficaria da seguinte forma:

Está pronto o cálculo do índice de emissão de “C”. Basta seguir o mesmo raciocínio ( a contagem das coincidências na vertical ) para outros elementos do grupo.

O CÁLCULO DOS ÍNDICES TÉLICO E TÉLICO GRUPAL

Após o cálculo dos índices de percepção e de emissão de todos os elementos do grupo, nossa tabela apresentaria as seguintes informações:

Procede-se ao cálculo do índice télico de cada elemento do grupo da mesma forma que é feita por Bustos, anotando cada resultado obtido no campo correspondente na tabela. Assim também é feito com relação ao índice télico grupal, cujo resultado é anotado no campo inferior direito da tabela ( * ).

O cálculo do índice télico de cada elemento, aproveitando-se as informações da tabela, seria feito da seguinte forma:

Após a anotação destes resultados na tabela, o cálculo do índice télico grupal seria feito da seguinte forma:

Este resultado também é anotado na tabela. 

Ao final, com todos os índices calculados, a tabela conteria todos os resultados obtidos e pode ser colorida para melhor visualização. 

Com relação às cores a serem utilizadas, Moreno fundamenta a utilização do preto e vermelho na mitologia grega: “Na mitologia grega, Eros é o deus do amor, e Eris o deus da discórdia. Conhecemos menos a Anteros, irmão de Eros e deus do amor repartido. Desta forma, os gregos representavam as forças de atração e repulsão que se manifestam entre os homens. Nós escolhemos para representar a força de atração um símbolo equivalente: uma linha vermelha. Os gregos pretendiam que todos os traços vermelhos são projetados por Eros, os Eris e os vermelhos recíprocos emanam de Antero …” (D, págs. 181, 182).

Bustos utiliza-se das cores azul ( + ), vermelha (-) e verde ( + -) (A, pág. 33). Landini (C, pág. 20) utiliza as cores verde ( + ), vermelha (-) e azul ( + -), justificando por serem de fácil visualização. 

Particularmente, prefiro utilizar as cores dos semáforos, por serem símbolos universais para as mensagens SIGA, ATENÇÃO e PARE. Faço as seguintes associações: 

VerdePositivoSiga
AmareloIndiferenteAtenção
VermelhoNegativoPare

A tabela, já colorida e em sua forma final seria: 

CONCLUSÃO

Verifica-se que, na FORMA TABULAR DE CÁLCULO, a leitura das informações e a comparação das mesmas é feita de forma direta, comparando-se as linhas 1 e 2, tornando-se desnecessário verificar todos os gráficos para se ter conclusões. Além disto, nesta forma, estão previstos campos próprios para anotação dos índices (perceptual, de emissão, télico e télico grupai). 

A forma tabular, também, apresenta uma melhor visão de conjunto, não sendo necessário consultar cada gráfico para que se tenha a visão do índice de emissão. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A) BUSTOS, Dalmiro Manuel – O teste sociométrico – Fundamentos, técnicas e aplicações. Tradução de Antonio Marcelo Campedelli, São Paulo, Editora Brasiliense S.A., 1979, op. cit. passim. 

B) EINSTEIN, Albert – Como vejo o mundo. Tradução de H.P. de Andrade, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1981, op. cit. pág. 15. 

C) LANDINI, José Carlos – Contribuições para a indicação do teste sociométrico, inédito, Campinas, 1981, op. cit. pág. 20. 

D) MORENO, Jacob Levy – Fondements de la Sociométrie. Presses Universitaires de France, 108, Boulevard Saint-Germain, Paris, 1970, op. cit. passim. 

E) MORENO, Jacob Levi – Fundamentos de la sociometria. Editorial Paidós, Buenos Aires, 1972, op. cit. passim. 

F) RODRIGUES, Aroldo – Psicologia Social. Editora Vozes Ltda., Petrópolis, Rio de Janeiro, 1977, op. cit. pág. 319. 

G) WATZLAWICK, BEAVIN, J.H., JACKSON, D. D. – Pragmática da Comunicação Humana, Tradução de Álvaro Cabral, Editora Cultrix, São Paulo, 1981, op. cit. pág. 47.