Trabalho com satisfação!


Ainda hoje estamos em contato com pessoas que continuam obedecendo a consigna “… comerás o teu pão com o suor do teu rosto…” Isto está intimamente ligado a dois fatores principais:

  • Uma deturpação da fé: essas pessoas parecem acreditar que o trabalho ainda é aquele castigo imposto ao homem, por haver negligenciado alguma coisa no Paraiso Celestial (maçã, sexo ou seja lá o que for).
  • Um aspecto Ortopédico-Psicomotor: uma incapacidade temporária de “chutar o balde”.

Seria interessante verificar que já estamos um pouco distantes da Criação e que, apesar do “castigo” o próprio Deus estabeleceu um limite: “… até que voltes à terra de que foste tirado”. Também o frei Carlos Mesteres (Paraiso terrestre: saudades ou esperança?) nos mostra que o Paraiso é algo alcançável aqui e agora. Mas estas são questões de fé e abstratas.

O que dizer quanto ao aspecto Ortpédico-Psicomotor? Parece que existe uma confusão quanto ao significado real de “chutar o balde”. No trabalho, costumamos estabelcer vínculos afetivos com a instituição para a qual trabalhamos (vestimos a camisa…), com as pessoas (amigos e colegas de trabalho) e, finalmente, com a tarefa que executamos (eu sou…).

Se a mudança ocorre em nível do vinculos com a instituição, é natural o afastamento das pessoas que eram vistas diariamente. Mesmo assim quem sai da empresa carrega consigo uma habilidade de fazer novos vínculos, relações e amizades.

No entanto o vínculo mais dificil de mudar é o relativo à tarefa que se executa. Tenho observado que, para muitas pessoas, não foi possível uma escolha consciente e madura da tarefa e profisssão, que tomam uma boa carga horária de nossa vida.

Maior geradora de insatisfações, a tarefa “mal escolhida” pode estar mascarada em uma série de reclamações. Esse fato é apontado por Taiguara: “Pode nao ser esta gravata o que sufoca, ou esta falta de dinheiro que é fatal…” Para ser prazerosa a tarefa deve estar em perfeita sintonia com o interior da pessoa, com a paixão. Não existem chances de prazer se não estivermos apaixonados por aquilo que estamos fazendo.

Como mudar? Sem dúvida muitos já se fizeram essa pergunta. Algumas empresas estão começando a perceber que é extremamente vantajoso ter pessoas trabalhando naquilo que lhes é a melhor parte, naquela tarefa onde está seu talento. Insto é perceptível nos esforços de recolocação, planejamento de carreira etc. Mas ninguém muda instantaneamente;nem empresas nem pessoas. É uma questão de planejamento, de um processo que inicia com o reconhecimento do que está sendo prazeiroso.


Este trabalho consta no Diário do Comércio e Indústria de 30/03/91.